sexta-feira, 9 de outubro de 2009

RELATO DE UM NÁUFRAGO, de Gabriel García Marquez

Por Ulisses Garcia Amaral

Livro muito interessante e de rápida leitura; para ser lido num fim de semana. São apenas 134 páginas e a fonte de impressão é graúda. Alguém já disse que a notícia é como um iceberg – só mostra uma pequena fração do fato real. Talvez isso ocorra ora pela qualidade do repórter, ora pelo espaço limitado que as mídias dispensam aos fatos, principalmente a mídia televisiva, que dá a notícia de forma cada vez mais compacta e veloz. O fato relatado de forma magistral pela pena de Gabriel Garcia Marquez é um exemplo de que o jornalismo deveria ser mais investigativo, ou seus redatores pelo menos mais céticos, e que procurassem oferecer a seus leitores matéria de mais qualidade, sem concessões a grupos de interesse.

SINOPSE DA OBRA – Em 28 de fevereiro de 1955, oito tripulantes do destróier Caldas, da Marinha da Colômbia, caíram na água e desapareceram durante uma tormenta no Mar do Caribe. Apenas um deles sobreviveu, Luís Alexandre Velasco, que, após passar dez dias à deriva, sem comer nem beber, foi encontrado semimorto numa praia deserta do norte da Colômbia. Praticamente sequestrado pelas autoridades e colocado num hospital naval, só lhe foi permitido falar nesse tempo a jornalistas do regime, e apenas um da oposição, disfarçado de médico, conseguiu entrevistá-lo. A Colômbia vivia, então, sob a ditadura folclórica de Gustavo Rojas Pinilla, e Velasco foi transformado em um herói nacional, fazendo discursos patrióticos no rádio e na televisão.

Pouco tempo depois, Luís Alexandre Velasco entrou na redação do El Espectador oferecendo sua história, que àquela altura não era nada mais do que notícia velha. Embora supondo que ele não teria muito o que contar, pois o governo fixara muito bem os limites de sua declaração, o editor-chefe seguiu sua intuição e fez um trato com Velasco. Em vinte sessões de seis horas diárias, Velasco relatou a tragédia para o então repórter iniciante Gabriel García Marquez, que descobriu que não acontecera tormenta alguma, e sim um acidente: o destróier levava contrabando e, tendo adernado por força dos ventos no mar agitado, a carga soltou-se e arrastou para o mar os oito marinheiros. A revelação do que realmente acontecera converteu-se imediatamente em denúncia política. O país foi tomado de grande alvoroço, que roubou do náufrago a sua glória e rendeu ao repórter o exílio.
CADERNO DE LITERATURA
Organizador: Ernesto Fonsêca
Editor: Almir Júnior
10ª Edição, 06 de outubro de 2009