Confesso que essa resenha é um plágio de texto da portuguesa Alexandra Gomes (http://booklovers.blogs.sapo.pt/), uma auto intitulada fanática por leitura que mantém um blog bem interessante na internet.Quando vi o livro numa estante da biblioteca da AABB fui magneticamente atraído por ele, um dos meus heróis de infância retratado por uma grande escritora moderna.Zorro é a fantástica lenda revisitada por Isabel Allende onde recria a história do jovem Dom Diego de la Vega que se tornou no famoso herói. Nascido Diego de la Vega em 1795, de um valente fidalgo espanhol – Alejandro - e da bela Regina, filha de um desertor espanhol e de uma xamã índia, o nosso herói cresce na Califórnia antes de viajar para Espanha, dividindo as suas aventuras pelo sul da Califórnia e pela Espanha napoleônica.Allende reconstrói num floreado conciso a poeirenta Califórnia sob a égide do domínio espanhol, onde Diego cresce perante a injustiça racial contra os nativos explorados. Apesar de ser um privilegiado, o nosso herói mantém fortes laços com os oprimidos, contribuindo para o seu sentido apurado de justiça e identificação com as vítimas. Assume nomeadamente a amizade para a vida com o seu irmão-de-leite, Bernardo, filho de uma mãe solteira índia. No entanto, é em Barcelona que o caráter revolucionário de Diego irá surgir, de tal modo que intriga Manuel Escalante, exímio professor de esgrima e membro da sociedade secreta A Justiça, que se dedica à luta contra todas as formas de opressão. Recruta-o e aqui começa a construção do seu vistoso e secreto alter-ego. O disfarce físico de zorro e a mentalidade social reformista vigente motivam-no a tornar-se adulto mais cedo e a lutar em defesa dos oprimidos. Com o leal Bernardo do seu lado, aperfeiçoa a sua fantástica destreza, evoluindo para um nobre herói, que mais tarde regressa à Califórnia para reclamar os bens da sua família, num duelo empolgante.Assumindo o romance de outro escritor, redefinindo-o, esta foi a oportunidade de Isabel Allende para uma reconstrução histórica exaustiva de um mito que permanece vivo no imaginário dos leitores. Com uma intensidade dramática desarmante, Allende relata-nos pormenorizadamente a infância do Robin Hood do séc. XIX da América Latina, que os inúmeros filmes e séries de TV nunca abordaram. A escritora mergulhou na sua ampla fonte de talento, trazendo à tona um herói mais humano, insuflando-lhe uma nova vida e dotando-o de coração, de alma, de mente e de um espírito indomável, com falhas humanas. Zorro deixa de ser um semideus às mãos de Allende. A sua intenção parece óbvia: revelar o homem por detrás da máscara. Este livro é um daqueles perfeitos e raros momentos de combinação entre o tema e o autor, acabando por ser um caso de amor. Os elementos da história são demasiado irresistíveis para ela: o herói romântico, o campeão dos oprimidos, o cenário da exótica Espanha na Velha Califórnia, o disfarce, a identidade, e Allende enamorou-se de tal maneira pela personagem, que tornou-a sua, apropriando-se dela. Aliás, Zorro é bem sucedido nas suas empreitadas, porque é grande o desejo da escritora de mostrar que todo o homem pode lutar pela justiça, se tiver determinação.Allende é inventiva e inteligente ao criar um narrador misterioso, cuja identidade é revelada apenas no fim do livro, dotando-o de uma voz narrativa hipnotizante, que nunca perde o timbre e nunca esmorece em tensão ou entretenimento.Outro charme do livro reside no seu ponto de vista totalmente feminino, desde a própria narrativa às personagens que o povoam. A iteração de Allende coloca mais ênfase nas poderosas mulheres da vida de Zorro.A escritora saboreou a complicada história de época, combinando pormenores históricos que não são gratuitos na história do herói, combinando a história espanhola com a história da Califórnia, povoando-as de contos míticos, viagens marítimas, aventuras de piratas e folclore nativo-americano.Os seus parágrafos descritivos são como mercados cheios de gente, cada frase com a sua bagagem de detalhes, que se acotovelam por espaço, juntando-se numa autêntica amálgama de ruído e cor, explodindo numa caracterização vívida e numa narrativa com ritmo.Porém, como tem tanto para contar, alguns trechos soam apressados, empobrecendo o processo narrativo. Inclusive, empacota um capítulo com duelos, donzelas formosas e piratas com situações de suspense, mascarando ficção séria de fanfarronice. A história arrisca mas resiste, desencadeando o melodrama em cada reviravolta.Esta história de aventura e romance clássico, com um final pós-moderno, está repleta de duelos de espada, viagens pelo mar, ataques de piratas, tradições nativas americanas e ritos, episódios de esgrima, injustiça social, sociedades secretas, vilões maléficos, duelos ao amanhecer, donzelas em apuros, amor não correspondido, acampamentos ciganos, quartos de desenho, drama, humor galhofeiro e muito mais.Aliás, cada palavra escrita estremece com a diversão que a escritora colocou na escrita deste livro, que é acima de tudo, uma variação feminino-juvenil deste grande clássico do início do século.Para quem conhece a história das missões jesuítas do Sul do Brasil percebera também algumas semelhanças entre o processo de colonização da Califórnia e do Brasil espanhol.
CADERNO DE LITERATURA
Organizador: Ernesto Fonsêca
Editor: Almir Júnior
1ª Edição
Rio de Janeiro: Bertrand, 2006 (417 páginas)
Disponível para empréstimo em:
Editor: Almir Júnior
1ª Edição
Rio de Janeiro: Bertrand, 2006 (417 páginas)
Disponível para empréstimo em: